Por Adri Lima
A Semana Santa é um dos feriados mais importantes da Espanha e se comemora com muita devoção!
Celebrada em todos os cantos, da Extramadura à Múrcia, de Galícia à Andaluzia, é igualmente celebrada tanto em grandes cidades quanto em pequenos vilarejos e muitas destas celebrações foram declaradas Interesse de Turismo Internacional. As pessoas participam vivamente de atos e tradições. De dia e de noite, as ruas tornam-se espaços onde a música dos tambores, a coloração das flores e a arte das esculturas religiosas se misturam, criando uma imagem surpreendente.

As datas da celebração mudam de ano para ano, já que a festa não está sujeita a uma data específica, e sim a um fenômeno astrológico. Associado desde que o Imperador Constantino, o Grande convocou o Concílio de Nicéia no primeiro domingo após a lua cheia após o equinócio da primavera no hemisfério norte, a Semana Santa nunca pode ser celebrada antes de 22 de março (o dia seguinte equinócio da primavera) ou após 25 de abril.
Um 80% da população se declara católica, sendo que um 50% são católicos não praticantes e um 30% católicos praticantes, e são esses 30% que levam sua devoção religiosa às ruas. Ser afiliado a uma o outra confraria é tão importante como poderia ser a afiliação a um time de futebol ou a uma escola de samba. Essa afiliação é transmitida de geração em geração, de pais a filhos.
A imensa maioria das celebrações da Semana Santa espanhola acontecem entre o Domingo de Ramos e o Domingo de Ressurreição, com especial destaque para as procissões do Jueves Santo (Quinta-feira Santa) e do Viernes Santo (Sexta-feira Santa). Também é uma semana sem atividade escolar e muitas famílias aproveitam para viajar.
– As festas da Semana Santa na Espanha são celebradas assim:
– Domingo de Ramos – o dia em que é comemorada a chegada de Jesus em Jerusalém;
Quinta-feira Santa – a instituição da Eucaristia na Última Ceia de Cristo;
– Sexta-feira Santa – a morte de Jesus na cruz;
– Domingo de Páscoa – o regresso à vida de Jesus e sua ascensão ao céu são celebrados, de acordo com a tradição cristã.

As procissões são organizadas pelas associações religiosas e podem ser irmandades ou confrarias. As irmandades integram pessoas de diferentes origens, status social ou profissão, já as confrarias unem pessoas de uma certa profissão (por exemplo uma confraria de pescadores).
Estas irmandades e confrarias carregam em seus ombros, ou em uma plataforma com rodas, um passo com esculturas que representam a Paixão de Cristo com imagens de virgens ou santos pertencentes as igrejas. Cada irmandade ou confraria possui seu próprio trajeto, algumas caminham por mais de 10 quilômetros, outras fazem trajetos mais curtos e, ao longo dele, trazem símbolos e cores próprios que refletem suas histórias.
As festas mais tradicionais estão no sul do país. Em Málaga por exemplo a mais de 500 anos as irmandades realizam uma competição para criar os tronos (plataforma que se carrega os santos) mais vistosos. Já em Córdoba desde do século XII os nazarenos ou penitentes, uma irmandade que se distingue pelos seus trajes com capuzes pontiagudos denominado “capirote” que lembram mais a Ku Klux Klan, saem pelas ruas segurando velas acesas e muitos deles descalços em comprimento de alguma promessa. E Sevilha, se vive tão intensamente a Semana Santa que recebe mais de 60 irmandades, e atrai uma imensidão de turistas.

Uma das principais procissões da cidade é a da “Hermandad de la Estrella”, fundada em 1560, que virou um símbolo de “valentia” da Semana Santa. Essa irmandade foi única de Sevilla (e de quase toda Andaluzia) a cumprir sua missão de peregrinar na Semana Santa de 1932, durante a Segunda República Espanhola, breve regime que separou a monarquia da ditadura franquista e que vigorou até a guerra civil, em 1939.
Nessa época, o governo espanhol declarou que o país não tinha religião oficial e proibiu os cultos públicos a figuras religiosas sem prévia autorização do Estado. Todas as irmandades desistiram de participar das celebrações da Semana Santa por medo de retaliação, mas a Virgen de la Estrella foi levada em procissão pela irmandade até a Catedral, sofrendo atentados ao longo do percurso – pedradas, bombas falsas e até tiros foram disparados contra a imagem da virgem, conhecida como “La Valiente” desde então.
Associada a celebração religiosa da Semana Santa está a tradição gastronômica que se produz em todos os lares na Espanha. Durante a Quinta-feira Santa e a Sexta-feira Santa, as famílias católicas cozinham pratos de legumes e peixe para substituir o consumo de carne. É habitual comer ensopado de bacalhau, sopa de alho, sopa de grão de pico com espinafre e de sobremesas doces tradicionais como as torrijas, as monas de páscoa, os pestiños. Os espanhóis não praticam a tradição de presentear com ovo de páscoa no domingo de Páscoa como acontece no Brasil, até existe ovos de chocolate, mas a variedade é bem escassa, quase nula. Encontrar um ovo de chocolate tamanho nº23 é bem difícil, principalmente nos supermercados.

Nem Barcelona nem Madrid contam com uma forte tradição de celebrar a Semana Santa. Isso não significa que não existam procissões, mas são eventos menores que não se comparam com as das Semana Santas mais famosas do país.
Visitar Barcelona ou Madrid durante a Semana Santa pode ser uma ótima ideia, já que os barceloneses e os madrilenhos aproveitam para ir-se de viagem e as cidades ficam “vazias”. Se os preços da hospedagem sobem, não é por causa da celebração da Semana Santa e sim por conta do feriado prolongado.
Feliz Semana Santa!
Texto muito interessante!!! Embora já viva na Espanha há quase 20 anos, aprendi várias coisas com esta leitura. Parabéns!
Muito obrigada Márcia! Ficamos felizes que tenhas gostado. Um abraço
Achei o texto muito interessante!
Depois de 12 anos morando na Espanha aprendi a diferença entre a irmandade e a confraria.
Obrigada por dividir conosco informações tão interesantes.
Obrigada a você pelo comentário.
Parabéns pelo magnífico texto Adri!