Ao sistema público de saúde espanhol faltam 4.000 médicos especialistas e a situação irá piorar com as aposentadorias de uma equipe que já tem 50% de seus médicos com mais de 50 anos.
A princípios deste ano o Ministério de Saúde espanhol apresentou um análise da situação para prever as necessidades futuras do sistema sanitário com o nome de: Estimação da oferta e demanda de médicos especialistas Espanha 2018-2030 – onde o ano base foi o ano de 2018 e o ano de horizonte o ano de 2030 – realizado em parceria com as Comunidades Autonómicas.
Segundo o estudo atualmente existe 138.797 mil especialistas trabalhando para o Sistema Nacional de Saúde e o déficit atual é de 2,9%. Em 2020 o déficit previsto será superior a 5% e chegará a 12% em 2025.
Um 50% dos médicos em geral (homens e mulheres) têm 50 anos ou mais anos, sendo que isso implicará que dentro de cinco anos comece uma acelerada dinâmica de aposentadorias. O envelhecimento mais pronunciado se encontra na atenção primária, 62% dos médicos têm 50 anos ou mais, e na atenção especializada um 44%. Um 20,5% (um de cada cinco médicos) tem 60 anos ou mais. Portanto, se prevê uma taxa de aposentadoria intensa para a próxima década, e que 14 das 49 especialidades terão que repor pelo menos 20% de seus ativos nos próximos anos.

Entre outros dados analisados constatou que 29% dos médicos homens tem 60 anos ou mais e um 13,6% das médicas com 60 anos ou mais. Um 31,3% das médicas são jovens tem menos de 39 anos, frente a 17,5% de médicos homens.
Outro dado relevante é a feminização da profissão médica, 55,5% dos médicos que atuam na rede pública são mulheres. Em pediatria, três em cada quatro médicos são mulheres. Apenas em 13 das 49 especialidades há um predomínio masculino significativo, sendo principalmente nas especialidades cirúrgicas. Para 2030 há uma previsão de 64% de mulheres médicas.
Com relação ao déficit por especialidades, existem duas especialidades médicas que maioria das Comunidades Autonómicas qualificam como deficiente atualmente. São as de Medicina Familiar-Comunitária (nome oficial da especialidade de médicos dos centros de saúde) e Pediatria. Um 27,5% dos profissionais de Medicina Familiar-Comunitária têm mais de 60 anos, e apenas 13% têm menos de 39 anos, portanto, “se prevê tensões de reposição a curto prazo”. Entre os médicos pediatras acontece algo semelhante já que 55% dos médicos têm 50 anos ou mais. Em menor proporção mas também com os piores prognósticos de déficit de profissionais a curto e médio prazo estão as especialidades de: anestesiologia cirurgia geral e digestiva, cirurgia ortopédica, dermatologia, farmacologia clínica, geriatria, medicina do trabalho, radiologia, otorrinolaringologia, traumatologia e urologia.

A ministra da Saúde, Maria Luisa Carcedo, defende que mais do que faltar médicos, eles estão é mal distribuídos. Entretanto é evidente que as condições de trabalho ofertadas estão por detrás do déficits em algumas especialidades, por meio de ofertas de trabalho pouco atrativas em áreas rurais distantes dos grandes centros urbanos e pelos contratos temporários precários, somado a uma falta de linhas de ação para cobrir esses lugares que são difíceis de cobrir.
A remuneração bruta anual média de um médico do sistema público de saúde na Espanha é de 53.000 euros/brutos, equivalente a 4.417 euros por mês. A maioria dos médicos menores de 45 anos de idade recebem ingressos anuais inferiores a 40.000 euros, e alguns médicos conciliam trabalhar no sistema público e privado (clinicas) para incrementar seus ingressos.
Mesmo apresentando déficits a Espanha conta 192 mil titulados em total, uma das taxa médicas por cem mil habitantes (425,1), mais altas da OCDE e há uma grande variação entre suas comunidades, por exemplo há uma taxa de 243 médicos na Comunidade Valenciana e de 468 médicos na Catalunha por cem mil habitantes.
A OCDE incluiu uma seção sobre migração internacional de profissionais da saúde e em seu relatório segundo o qual, em 2015, 16,9% dos médicos que trabalham nos países da OCDE haviam se formado no exterior; na Espanha, o percentual é de apenas 9,4%, ocupando a 17ª posição dos 28 países em participação de médicos estrangeiros.
Já a Associação de Médicos Especialistas Extracomunitários (Asomex), calcula que atualmente existem entre 3.000 a 4.000 médicos estrangeiros (fora da UE) trabalhando na Espanha, embora o governo não ofereça dados oficiais. A Asomex estima que a grande maioria dos médicos extracomunitários venham da América do Sul, especificamente da Argentina, Cuba ou Venezuela, e todos os anos milhares de médicos extracomunitários recém-formados vem à Espanha para realizar a prova de pros grado do MIR coordenado pelo Ministério da Saúde.
O MIR é um teste de conhecimento que é realizado através de uma prova tipo teste de múltipla escolha cujo objetivo não é somente aprovar e sim obter a maior pontuação possível, pois os resultados são ordenados de maior à menor pontuação, sendo assim os selecionados com a maior pontuação são os primeiro a escolher hospital e especialidade para sua formação médica. Depois de superada a prova do MIR, será necessário passar um período entre dois e cinco anos (dependendo da especialidade escolhida) como médico interno residente (MIR) em um hospital ou centro de saúde para finalmente obter a qualificação da especialidade. Atualmente na Espanha há um total de 49 especialidades médicas reconhecidas e o MIR permite o acesso à formação médica especializada em qualquer parte do país.
Este ano mais de 4.460 estrangeiros tentaram a sorte na prova do MIR concorrendo as 272 vagas que Ministério da Saúde estabeleceu como quota para os admitidos fora da União Europeia (extracomunitário). Para os facultativos estrangeiros a legislação espanhola permite a homologação do título https://vivernaespanha.com/homologacao-de-estudos-na-espanha/ e os trâmites demoram em torno a 24 e 36 meses. Os facultativos de países da América do Sul contam com condições especiais, de modo que depois de dois anos trabalhando de maneira estável na Espanha podem solicitar a nacionalidade espanhola.
Com esse cenário de referência e para o período de 2018-2030 se estima que haverá um aumento de 8,9% na demanda por especialidade médica e uma queda de 1,2% na oferta.
Para mais informação:
https://www.mscbs.gob.es/profesionales/formacion/necesidadEspecialistas